primeira parte aqui: como tudo começou
00:30- Ainda não tinha avisado a ninguém, estava sozinha curtindo minhas pequenas e pouco doliridas contrações. Liguei o computador, coloquei meu reggae pra toca e fui ate a porta do quarto, fiquei um tempo parada olhando pro o Wa e imaginando como dar a noticia. Antes que eu pudesse acorda-lo ele deu um pulo da cama me chamou de assombração por estar ali parada na porta no meio da penumbra. Eu ali tentando dá romantismo a cena, vem ele e me quebra com essa. Então foi nesse cenário que eu o avisei,
- Wa, é hoje!
- Sério? Tem certeza? Vamos ligar pra sua irmã? Vamos pro hospital? Vamos dormir?- e sugeriu mais um monte coisas.
Entrei no facebook e fui conferir se minha amiga estava online, ela estava. Pedi pra ela ir se preparando que quando apertasse iríamos pega-la e ir pra maternidade.
Fui dormir ao lado do Wa. Tentei explicar o que sentia, tentamos conversar.Nos abraçamos, nos emocionamos e cochilamos.
Meu cochilo durou 15 minutos e quando acordei preferi não acorda-lo. Fui pra frente do pc, chamei minha amiga, ouvimos Anunciação do Alceu Valença, comemoramos a chegada da Mariah . A dispensei e disse que a qualquer novo sinal ligaria.
Por volta das 02:30 em diante.
Andava pela casa de um lado para outro. Rebolava, dançava, cantava,agachava, levantava. Fiquei um bom tempo debaixo do chuveiro deixando a água cair, me esquecendo do mundo, tentando não racionalizar. Tentando me entregar, tentando esquecer de tudo, mais não deu. Comecei a lembrar que não tinha comida pro outro dia. Sai do chuveiro comecei a preparar a comida. Catei, cozinhei e temperei o feijão. Entre uma contração e outra. Eu dançava, eu mexia panela, eu agachava, eu experimentava, eu rodava, eu comia, eu me preparava a parte hospitalar que me esperava. Liquei pra minha irmã. Wa me pergunta do quarto se está tudo bem. respondo que sim. O sol começa a aparecer já estava amanhecendo. E as contrações estavam vindo fracas até que pararam. Pararam?Como assim? Não podem parar, não queria que parassem, estava pronta, eu tinha certeza que estava em trabalho de parto. Não consegui acreditar. Eram 07 da manhã quando decidi ir para a maternidade, sem dor, sem contração, sem sentir Mariah mexer. Por dentro estava apreensiva mais não queria transparecer. Ele busca minha irmã. Aviso minha amiga. Malas no carro, Lá vamos nós para a maternidade. O sol batia forte dentro do carro,estava com calor,comi chocolate, bebi água mais Mariah não se manifestava mais. Não iria aguentar esperar até a maternidade que eu tinha escolhido, era muito longe. Paramos na mais próxima( Therezinha de Jesus), queria ouvir logo o coração da minha filha, queria ouvir que estava tudo bem. Pedi minha amiga que me esperasse lá. Chegamos. Esperamos minha vez. Minha amiga chega. Tentei comer, não consegui. A médica me chama. Médica sorridente e gentil. Expliquei o que estava acontecendo. Queria ouvir logo minha filha. Cardiotoco e tutun tutun tutun 138, 142 bpm, não lembro mais. Chorei, ri respirei fundo e agradeci a Deus. Fui examinada e os 4cm de dilatação estavam lá. Bolsa integra, tampão mole. Estava sim em trabalho de parto. A médica pediu meus documentos, eu iria ter que ficar internada. Como sabia que isso pudesse acontecer vim bolando um plano no carro caso quisessem que eu ficasse por lá. Expliquei a ela que queria ir pro João Penido pois minha médica do pré natal estava dando plantão lá
Já eram quase 09:00 quando seguimos pra maternidade do João Penido. Aliviada fui conversando, explicando onde estavam as coisas em casa pro Wa, o que deveria fazer com a Elisa, no geral fui dando ordens, porque é o que mais sei fazer. Pegamos trânsito e chegamos. Saio do carro, mexo na bolsa e ela vem... sinto uma contração, fraca, mais a senti. Documentos na mão, aguardo minha vez e, outra. Sou chamada. Me examinam daqui, dali, explico tudo, falo das contrações que foram embora e sinto-a de novo. A médica sorri e fala: não foram embora não, estão ai, e você está em trabalho de parto, vamos te acomodar na sala de parto. Essa fala fez eu me sentir segura e apesar de estar em um hospital, ali era diferente. Eu iria ser acomodada e não internada, percebem?!
Me despedi do Wa. Porque achei melhor ele em casa com a nossa filha, do que comigo na maternidade (parto domiciliar não tem dessas coisas né? iríamos estar todos juntos.). Na verdade estava tão segura quanto ao que eu queria, que na minha cabeça eu podia ter minha filha sozinha que eu ia dar conta, aloka.
Antes que eu pudesse chegar ao quarto a enfermeira que me acompanhava até lá, para no caminho e me apresenta:
- Ó Thais essa é a Helô, ela que vai te acompanhar no seu trabalho de parto!
Ela me solta um sorriso, fala alguma coisa que não lembro e diz que jaja chegaria lá na sala pra gente conversar!
Isso! Era segunda-feira, plantão da Helô, sorri profundamente feliz.
Continuo andando e me deparo com o mesmo quarto em que fiquei no nascimento da Elisa. Era ali! Ali mesmo, onde eu e Elisa lutamos por um parto normal que a Mariah iria chegar.
Eu e minha amiga, já familiarizada com o lugar ( foi ela que esteve comigo no nascimento da Elisa) nos acomodamos, conversamos, comemos e dessa hora em diante, as contrações já começaram a pegar.
Sentia as dores vindo, eu sabia exatamente quando elas estavam vindo e quando já estavam acabando.
Sentia que não demoraria muito e minha filha estaria no meu peito.
E foi as duas horas da tarde quando tudo começou. Quando minha cabeça já não estava mais atenta as coisas a minha volta, quando o meu corpo começou a se mexer involuntariamente a cada contração no intuito de mudar o foco da dor, eu dançava, eu agachava, eu rebolava.
Me preparei pro meu parto e tudo o que eu fazia era aceitar a dor e acreditar que era uma contração a menos, aquela ali já tinha ido e que venham as próximas, eu estava pronta.
Tive fome, mais não deixaram comida, só uma sopa terrível. Disseram que eu não podia comer estava de dieta zero, caso fosse necessária a cirurgia. Me bateu insegurança. Deixei de lado toda a emoção que estava sentindo e comecei a ficar totalmente em alerta, lúcida, racional. Mas não me deixei abater. Pedi uma massagem na lombar pra minha amiga, só que não gostei deficar parada. Queria me movimentar. Eu, minha amiga e Helô no quarto conversamos, Helô contava algumas histórias de gestantes, eu me animava novamente. Entrei no chuveiro e ali eu cochilava em pé mesmo, enquanto a água caia em minhas costas. Pedi pra comer uma laranja, e ela claro foi providenciar uma faca, e me disse pra comer sim. Precisava estar com as energias recarregadas. Chupei aquela laranja já pensando nas outras 5 que eu iria querer. Entre uma contração e outra eu me esbaldava na laranja. Deitei pra fazer o primeiro cardiotoco. Deitei, a contração veio e vomitei, lá se foi a laranja. Me perguntaram se eu queria uma medicamento. De forma alguma eu aceitei. Queria estar em controle da minha situação. Fui pro banheiro, vontade de esvaziar o intestino, sentada no vaso eu dormia, entre uma contração e outra eu pescava minha cabeça que caia. Abria os olhos e via Helô ali do meu lado me doulando. Fui pro chuveiro. A água caia, as contrações já estavam chegando no nível insuportável, o chuveiro já não as amenizavam mais. Mais dali eu não sai. Ajoelhei no chão e apoiei metade do corpo na bola. Pedi para ajustarem a água, estava sentindo-a fria. Minha amiga ajustou da forma que eu queria, A água estava quente, muito quente, ela quis diminuir, eu não deixei, ela falou que minhas costas estava muito vermelha, mais queria daquela forma.
Queria estar dentro de uma piscina, dentro de um mar, de um oceano com toda aquela água quentinha que me abraçava e me fazia entender que sim, eu estava entrando na partolândia.
As contrações já não vinham mais espaçadas não havia muito jeito de aliviá-las, Comecei a vocalizar bem baixo com a cabeça apoiada na bola, eu chorava e a dor aumentava. Em meus pensamentos orei, pedi a Deus que me desse toda a força que eu precisava, sentia a Mariah muito próxima. Chorei mais, chorei muito. Não tinha dito uma ligação tão próxima com a minha filha durante os noves meses de gestação, como estava tendo naquele momento. Abri os olhos olhei para a porta do banheiro, e vi ali minha amiga sentadinha com uma carinha meio assustada, meia perdida, mais ali do meu lado, sem se quer tirar os olhos de mim. Me entreguei, me entreguei de uma forma que a cada contração eu tira um medo, um peso, um pensamento negativo de dentro de mim. A cada dolorida contração eu perdoava as pessoas que já me magoaram. a cada contração eu pedia perdão as pessoas que já magoei. Chorei mais. Pensava na Elisa, queria abraça-la com toda aquela força da contração que estava sentindo. Força era isso. Já não eram mais contrações era uma enorme força que seu sentia para baixo, muito forte e intensa. Pedi alguém pra pegar meu roupão queria sair do chuveiro. A médica entrou pela primeira vez no quarto, o quarto estava super quente por conta do vapor do chuveiro. Ela levou um susto e pediu pra ligar o ar. Comecei a me sentir controlada novamente. Mais helô não permitiu que ligassem o ar, pelo ao menos naquele momento eu a ouvi dizendo que não, que deveríamos respeitar a minha temperatura corporal. A médica veio conversar e disse que por mais que não quisesse teria que ser feito uma intervenção,porque a bolsa ainda não tinha rompido e eu já estava a 18 horas em trabalho de parto, e caso alguma intervenção fosse feita eu correria menos risco de fazer a cirurgia. Me deixou a escolha entre ocitocina sintética ou rompimento da bolsa, aceitei o rompimento. Já eram 18:30 e alguém gritou do corredor, tá quase na hora de trocar. Trocar... seria trocar o plantão. helô, que me ensinou melhores posições pra eu ficar na hora final do parto, que me doulou, que me esclareceu, que cuidou de mim o trabalho de parto inteiro poderia me deixar. Sai do chuveiro, ela veio me ajudar. Uma contração muito forte veio ela me abraçou, eu chorei. Pedi pra que não fosse embora, que ficasse comigo. Ela disse pra eu ficar calma, ela não iria me deixar, só iria embora depois que Mariah nascesse, enxugou minha lágrimas e perguntou como eu estava me sentindo. Me deitou na cama, a médica rompeu a bolsa. A dor praticamente sumiu, a vontade de fazer força ficou maior. helô perguntou se eu queria já ficar na posição em que treinamos. Fiz que sim e apoiada na cama eu comecei a sentir a força pra baixo e a fazia junto. Durante o parto helô me ensinou a fazer força só quando a Mariah fazia, e quando ela parasse que eu parasse pra descansar também. Não sabia disso e, assim eu o fiz. E a cada contração eu dormia, quando abria os olhos me dava conta de que a sala já estava ficando cheia, não era mais só eu minha amiga e a enfermeira. Fiz muitas forças e sentia que tudo estava sendo em vão, não via minha filha. Até que helô me dá a noticia: já estou vendo o cabelinho dela, pretinho é muito cabelo. Sorri e chorei, ela já estava vindo. E continuei. A médica entrou no quarto, colocou a mão sobre a minha e a cada força que fazia ela me dizia: força, força, força, não para, se não ela não nasce, super seca e insensível. Apertei a mão dela com todas as minha forças, com vontade de quebra-la durante uma contração. E helô vinha até mim e fala ao meu ouvido, força só quando a contração vier, você está linda, está indo super bem, não vai demorar muito. Falei com ela que já não aguentava mais, os outros médicos ouviram e senti uma vibração de todos, inclusive da helô que sorrindo me falou: é assim mesmo, é nessa hora em que você não aguenta mais, é nessa hora que ela nasce. Falei que não tinha mais forças e, com o meu consentimento tomei uma dose de ocitocina. Vi a médica pedindo pra armarem o arco na cama, pensei: vou ter que ficar de cócoras. Via helô (sempre ela s2) falando alguma coisa com a médica que não pudi ouvir, dai ela me pediu: Thais, vc quer ficar de lado como te mostrei?!. Não pensei duas vezes e me virei. Parecia que tinha recebido um jato de gás depois daquela ocitocina. Fiz mais força. Os médicos conversavam, helô pedia silêncio (S2).Mais uma força, todo mundo vibra, eu relaxo, ela volta. Vamos lá Thaís é isso ai ela já está coroando. Mais uma força, eu vou até onde posso, não consigo mais, falo que estou dando o máximo de mim. Mais sabiam que não era. minha amiga vem até mim, segura minha mão e como uma mãe que dá ordem ela firme comigo num tom de voz alto, bem na hora de uma contração: faz essa força Thais, não para agora, vamos!!!
Não cheguei até pra desistir, não vou parar, obrigado por me lembrar disso.Foi isso que eu queria ter respondido a ela naquela hora. Apertei a mão dela com todas as minha forças, Mariah se empurrou para baixo com toda as suas forças, gritei como uma animal, como uma leoa que dá a luz, que confiava na força de seu corpo, um grito mais forte do que todas as forças que eu estava fazendo. Senti a cabeça dela, senti uma ardência forte, já não fazia mais força, ela saía sozinha, já não sentia mais nada, Todos sorriam,Mariah chorou, veio pro meu colo, não cortaram o cordão. Ela ainda chorava, colocaram a touquinha ela procurou meu peito, ela mamou!!!!!!!!!!Ela mamou!!!!!!! Ela já sabe mamar!!!!!! foi lindo.
Eu chorava sem parar, eu queria fotos, mais minha amiga aos prantos saiu do quarto para avisar ao meu mundo que Mariah já estava em meus braços, as 19:09 da noite dez minutos após a troca de plantão, Mariah nasceu pesando 4,025 e medindo 50,05.
ú n i c a foto |
A Lígia minha amiga que em acompanhou e se preparou para o meu parto junto comigo
A minha irmã Lara que me ajudou em todos os momentos que precisei dessa minha gestação, assim como minha sogra.
Ao Wa que foi meu principal aliado, sempre me incentivando.
A uma amiga muito especial que adquiri nessa busca pelo parto normal, Soraya! Obrigado pelas madrugas de conversas e esclarecimentos e desabafos.
Aos grupos do facebook sobre maternidade, em especial o AMMA JF( Aliança de mulheres pela maternidade ativa) e o Cesárea?! Não, Obrigado!
E a Deus por ser tão maravilhoso e ter amparado a mim e a todos que me acompanharam nessa minha busca.
Gratidão!!!
Fui só emoção e alegria, sou só emoção e alegria!!!
Escolhi viver esse momento, escolhi dar a luz!
Eu engravidei, eu gerei, eu pari!!